Como as ÁGUAS e RECURSOS THERMAIS podem contribuir para saúde pública & desenvolvimento sustentável de um país.
FONTES HIDROMINERAIS DO BRASIL: Componentes Biologicamente Ativos (BAC) Naturais
CAPÍTULO 2
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
2.1. Aspectos Históricos
A medicina tradicional e a indígena
fazem usos terapêuticos das águas e de suas fontes naturais desde tempos
remotos. Também a medicina moderna teve nos benefícios à saúde das fontes
hidrominerais gregas, o início de seu desenvolvimento. As primeiras
farmacopéias mundiais prescrevem vários tipos de águas minerais naturais como
eficazes bioativos em aplicações externas e internas, para tratamentos de
diversas doenças; como a: Pharmacopoea Genevensis de 1780, Borussica de 1799,
Gallica de 1818, Helvetica de 1933, dentre outras (Nocco, 2007).
Importantes
cientistas europeus da área farmacêutica trabalharam com águas minerais como:
Klaproth, Trommsdorf, Lampadius e Fresenius (Nocco, 2007). Outros renomados
químicos primordiais como, Lavoisier e Arrhenius, também pautaram muitos
estudos nas soluções aquosas e seus eletrólitos (Castro, 2012).
A primeira
obra encontrada descrevendo os banhos como remédios naturais e diferenciando os
tipos de águas em indicações de curas específicas para diversas doenças, aborda
experiências em fontes italianas como Fornello, Castiglione, Monte Comano.
Foram empregadas técnicas de imersão, ducha, fango (lama), sudatório e arena
(consultório) médica (Iasolino, 1588).
Quase na mesma
época, outros também abordaram as principais doenças conhecidas relacionando-as
com tratamentos através de algum tipo de água, especialmente na Alemanha, de
acordo com conceitos de farmacopéias e práticas terapêuticas européias
(Bauhinus, 1598).
Publicações
onde as águas possuem seus componentes minerais, gasosos e físicos, sendo diferenciados
pelas relações dos específicos poderes curativos, datam dos primórdios das
edições impressas (Le Givre, 1659; Limbourg, 1754; Peale, 1887; Weber e Weber,
1896). Em 1931 é proposta na Rússia, por Vernadsky, uma abrangente classificação
das águas naturais, fundamentada na balneologia terapêutica, organizada em 19
reinos, 43 sub-reinos, 143 famílias e 531 espécies (Vasilievskij e Pogrebov,
1938).
A relação das
nascentes com a percepção de um futuro sustentável é antiga e de inevitável
apelo mágico (“poço dos desejos”), espiritual, religioso (“água santa e água
benta”) e curativo (“fonte da juventude”). Desde que se descrevem as nascentes
na história humana, são associadas observações benéficas ou terapêuticas de
suas águas com componentes e ambientes aflorantes peculiares (Lamoreaux, 2005).
Na Bíblia são conectadas ao dilúvio por um abismo (Gênesis 7:11), em diversas
referências como “água sob a terra” (Êxodo 20:04) ou na fonte hidrotermal de
Hierápolis que ajudava no tratamento de alguns problemas de saúde (Carta à
igreja em Laodicéia 3:14-22) (UNESCO, 2004).
Na China, a fonte
hidrotermal de Lisban tem sido utilizada para fins medicinais desde monarquias
a 1134 a.C. Entre 460 a 370 a.C., estudiosos como Hipócrates consideravam o
banho mais do que uma simples medida de higiene, sendo saudável e benéfico para
a maioria das doenças. Reconhecido como “pai da medicina atual”, propôs a
hipótese de que a causa de todas as doenças estava no desequilíbrio dos fluidos
corporais. Recomendou para tal recuperação uma mudança de hábitos e ambientes,
também incluindo banhos, transpiração, caminhadas e massagens. Contudo, foi o
médico grego Asclepiades (124 a.C.) que introduziu em Roma os fundamentos da
hidroterapia por meio de banhos e ingestão de águas (Burns, 1981).
As terapias e
experiências de SPA, globalmente difundidas, constituem a tradução para a
língua inglesa da medicina termal ou hidrológica, por exemplo, no auge da era
romana, o naturalista Plínio cita: "sunt thermae medicinae optima pars"
que se traduz como “SPA é a melhor medicina”. O termo SPA talvez provenha do valonês
(atual Bélgica) “espa”, que significa fonte e denomina cidade homônima com
águas curativas conhecidas desde o século XIV, ou também da tradução da palavra
latina “spagere” indicando umedecer por espalhamento e dispersão; ou ainda como
é mais comumente divulgado, originada do anacronismo latim da frase “salus per
aqua” sendo a saúde pela água (Van Tubergen e Linden, 2002).
2.2. Aspectos Legais
As fontes de
águas minerais e termais são previstas legalmente pelo Código de Minas em 1940
e orientadas pelo Código das Águas Minerais - Decreto Lei nº 7841 de 08/08/1945.
O § 4º do art. 153 da Constituição Federal de 1946 e a Lei nº 2661 de 3/12/1955,
descrevem características básicas das estâncias hidrominerais e preveem
auxílios financeiros para estas, além do fornecimento de favores em convênios
com seus governos estaduais. Assim, alguns estados formulam leis próprias para viabilizar
tais créditos da União, como: Rio Grande do Sul (Lei nº 474 de 08/05/1958),
Bahia (Lei nº 1451 de 10/08/1961, entre outras), São Paulo (Lei nº 10426 de
8/12/1971, entre outras), Minas Gerais (Constituição Estadual de 1989), Santa
Catarina (Lei nº 1813 de 05/01/1994) e Rio de Janeiro (Lei nº 274 de
28/12/2004).
A necessidade
da realização de estudos sobre as aplicações medicinais destas águas e dos
climas onde se inserem é considerada estratégica ao interesse da ciência e da
saúde pública, cabendo ao ministério da saúde tais orientações (artigos 2º e 3º
da Lei nº 2661 de 3/12/1955). Ao ministério das minas e energia (antigo
ministério da agricultura) cabem as delimitações das áreas de proteção das
fontes e suas classificações normatizadas com base no código de águas minerais
(BRASIL, 1945).
Após a
tentativa de atualização deste quadro legislativo, através do grupo de trabalho
para caracterização e classificação das águas minerais naturais brasileiras
(GTCAM) (BRASIL, 2002), a ação mais recente do ministério de minas e energia (MME)
está na Portaria nº 127 de 25/03/2011 normatizando roteiro técnico para
elaboração do projeto de caracterização crenoterápica (Portaria MME nº 374 de
01/10/2009), onde em seu anexo constam necessárias algumas das variáveis destes
recursos minerais e de seus ambientes que são também compiladas neste trabalho,
como: procedência da descarga (surgência/poço tubular), localização geográfica,
classificação, caracterização dos principais elementos minerais contidos,
informações científicas relativas à composição físico-química e microbiológica
para fins de racionalização de uso frente ao público consumidor, potenciais
aproveitamentos, propriedades terapêuticas e ações benéficas no organismo
humano.
As águas
minerais como agentes terapêuticos, voltaram a receber atenção do ministério da
saúde, por seus fundamentos da prática alternativa de assistência à saúde do termalismo;
quando a comissão interministerial de planejamento e coordenação (CIPLAN) fixa
resoluções com normas e diretrizes para seu atendimento (BRASIL, 1988).
Posterior incentivo ao tema ocorre com a resolução do conselho nacional da
saúde - CNS nº 343 de 07/10/2004, que reativa a comissão nacional de
crenologia, de caráter interinstitucional, constituída por representantes dos
ministérios da saúde, das minas e energia, das cidades, do conselho nacional de
saúde e de outros órgãos afins, com o objetivo de discutir e apresentar
subsídios à definição das ações governamentais que envolvam a revalorização dos
mananciais das águas minerais, seu aspecto terapêutico, a definição de
mecanismos de prevenção, fiscalização, controle, além do incentivo à realização
de pesquisas na área.
Culminando com
a portaria ministério da saúde 971 de 03/05/2006, que aprova a política
nacional de práticas integrativas e complementares (PNPIC) aos usuários do sistema
único de saúde (SUS), citando que nosso país dispõe de recursos naturais e
humanos ideais ao desenvolvimento do termalismo social/crenoterapia, cuja
abordagem possui reconhecidas indicações aos usos de águas minerais para
tratamentos de saúde. Configurando como prioridade o aumento da resolutividade,
apoio em pesquisas e incremento de diferentes abordagens, que auxiliem a
melhoria destes serviços, tornando disponíveis opções preventivas e
terapêuticas (BRASIL, 2006).
Em consulta a
legislações ambientais nacionais relacionadas às águas, nascentes e recursos
hídricos subterrâneos; desde o Decreto 24643 de 10/07/1934 instituindo o código
das águas, Lei 9433 de 08/01/1997 que institui a política nacional dos recursos
hídricos, Lei 9984 de 17/07/2000 que cria a agência nacional de águas (ANA), Resoluções
do ministério do meio ambiente junto ao conselho nacional do meio ambiente (CONAMA)
ou conselho nacional de recursos hídricos (CNRH); não foram encontradas
citações com o enfoque deste trabalho (BRASIL, 2005).
O ministério do turismo coloca as estâncias
hidrominerais dentre as principais tipologias dos municípios turísticos
brasileiros e reconhece os recursos naturais terapêuticos (RNT) como elementos
fundamentais ao segmento do turismo de saúde (BRASIL, 2002). Em sua estratégia
de regionalização do turismo nacional observaram-se 22 regiões, pólos, rotas ou
circuitos com denominações contendo a palavra “águas”, num total de 87
municípios (BRASIL, 2007). E relevando sua importância, ao publicar o caderno
de orientações básicas para o segmento do turismo de saúde e bem estar, observa-se
mais uma vez a recomendação para o aumento de conhecimento relativo ao
inventário nacional das ocorrências e das características dos atrativos
naturais e fontes hidrominerais ou termais (BRASIL, 2010).
2.3. Aspectos Econômicos
No ano de
1992, foram estimadas em mais de 4 bilhões de pessoas em todo mundo que
utilizaram da balneologia em SPAs, “resorts” de saúde, centros termais e
sanatórios de sistemas previdenciários públicos, sendo que somente na indústria
de SPA são empregadas aproximadamente 15 milhões de pessoas, com uma renda
total de US$ 30 bilhões. Nesta época, o mercado alemão das águas minerais
naturais representou valor superior a US$ 2 bilhões (Fricke, 1993). Na década
seguinte, os mais de 50.000 SPAs possuem globalmente volume de negócios
correspondente a US$ 250 bilhões (Palma, 2006).
Apesar do
termalismo não abranger mais que 2,5% do total dos serviços de saúde dentre as
práticas integrativas e complementares (PIC), os mais de 1.000 SPAs brasileiros
apresentaram uma receita de R$ 370 milhões em 2012, correspondendo a cerca de
300.000 visitantes e que tem aumentado em 10% ao ano (ABCSPA, 2013).
Os sistemas de
saúde de diversos países pagam boa parte dos tratamentos termais e das estadias
nestes locais, sendo constatadas vantagens não só sociais, como econômicas
(Pratzel, 2001; Klick e Stratmann, 2008; Coccheri et al., 2008).
Atualmente são
500.000 os curistas ou pacientes hidrotermais de todas as idades e sob
prescrições médicas submetidas aos tratamentos crenoterápicos intensivos de 18
dias na França, com média individual de gastos em US$ 700,00 que totalizam um
volume anual de negócios estimado superior a US$ 1,5 bilhões. Disto, 65% é
subsidiado pelo sistema previdenciário nacional, que representa apenas 0,3% dos
gastos públicos. Seus 118 centros termais geram mais de 100.000 empregos, sendo
o segmento turístico de saúde responsável por 25% do total desta atividade e
que, reconhecidamente, induz vantagens comparativas nos indicadores
socioeconômicos de suas comunidades (Freire, 2013).
Recentemente
vem se desenvolvendo a ideologia das redes de águas e espaços ou cidades
“premium”, que possuem características particularmente mais favoráveis para a
qualidade de vida. A qualidade das águas é item de primeira importância nesta
avaliação, por meio de sua pureza e valor epidemiológico na potabilidade em
distribuição pública (Boland, 2007). Na China, tais propriedades especiais nas
águas de fontes termais que propiciam lazer, turismo, bem estar, tratamentos
médicos e engarrafamentos industriais, também são consideradas atualmente como
recursos de grande potencial indutor ao desenvolvimento de regiões do tipo
“premium”; devendo ser preservado e pesquisado (Li, 2008; Xie, 2009; Chen e
Huang, 2009).
O planejamento
estratégico e a importância para o desenvolvimento sustentável dos 230
empreendimentos relacionados às fontes termais insulares de Taiwan vêm sendo
amplamente discutido e pesquisado por todos os segmentos envolvidos, inclusive
com opinião dos mais de 4 milhões de visitantes por ano, que demonstram
preferências dirigidas à natureza de cada ocorrência (Lee e King, 2008; Lee e
King, 2009; Hsu, 2012).
Pesquisas
utilizando metodologias estatísticas referenciais ao turismo demonstram que em
países onde os SPAs e “resorts” de saúde são grandes contribuintes do produto
interno bruto, como Espanha e Eslovênia, as preferencias para seleção do local,
tanto dos visitantes quanto dos empreendedores, também priorizam as
propriedades bioativas das águas e as belezas cênicas ambientais (Snoj e Mumel,
2002; Alèn et al., 2006).
As relações
das águas minerais e termais com propriedades terapêuticas e valores turísticos
são potenciais indutores do desenvolvimento sustentável, sendo necessários
políticas e estudos estratégicos para sua exploração e preservação por todos os
países da região asiática no Pacífico (Backer, 1999). Neste contexto, as
experiências mais antigas, aplicações práticas e pesquisas específicas estão no
Japão, onde a filosofia onsen é popularmente utilizada nos banhos termais de
imersão (Nasermoaddeli e Kagamimori, 2005; Erfurt-Cooper e Cooper, 2009;
Serbulea e Payyappallimana, 2012).
Na Rússia,
desde os tempos da extinta União Soviética, os sanatórios, hospitais e
instituições públicas de balneoterapia são de grande valor social e amplo uso
popular, sendo recentemente implementados os “resorts” de saúde e SPAs, que
somam mais de 500 unidades neste país. O volume estimado da demanda em água de
10 a 100 m3/dia em uma indústria engarrafadora de água ou em uma
instituição balneológica convencional; 1.000 m3/dia em um grande
resort de saúde e 5 a 10 m3/dia em um centro crenoterápico de
tratamento apenas hidropínico (ingestão). A demanda total soviética das águas
subterrâneas aproximava-se em 100.000 m3/dia, enquanto para
irrigação superava os 26.000.000 m3/dia (Bihari-Axelsson e Axelsson,
2002).
Neste país,
estão as mais antigas e completas pesquisas sobre as diferenciações das águas
minerais de acordo com seus BAC, suas eficácias com ensaios clínicos nas mais
diversas especialidades médicas e correspondências em legislação correlata. Sendo
grande parte desta produção científica, publicada desde 1923 em artigos do
jornal “Voprosy Kurortologii, Fizioterapii, i Lechebnoi Fizicheskoi Kultury”
(Vartanyan et al., 1985; Persiyanova-Dubrova et al., 2002; Povazhnaia e
Bobrovnitskiĭ, 2013).
Na Turquia, a
utilização dos recursos naturais e culturais para o turismo, especialmente de
suas mais de 1.500 fontes termais, corresponde a apenas 5% da dotação natural e
são sugeridas mais pesquisas sobre suas indicações hidroterápicas,
planejamentos urbanos e paisagísticos para o fomento deste desejado segmento
sustentável – “green economy” (Oğuz et al., 2010; Topay e Küçük, 2010; Ataberka
e Baykal, 2011).
A redução nos
custos do sistema de saúde pública italiano é avaliada em estudo de eficácia
comparativa entre terapias termais e as farmacológicas no tratamento de doenças
gastrointestinais (Gasbarrini et al., 2006). Relevante também é a descrição dos
peculiares benefícios da medicina termal empregada em cura, prevenção e
reabilitação para a maioria dos problemas de saúde, somando-se aos
característicos usos sustentáveis dos recursos naturais termais da Espanha
(Maraver et al., 2012).
Exemplo
similar ao ambiente brasileiro é descrito pelas vantagens dos dias mornos e ensolarados
na região australiana de “Queensland”, nas eficácias de terapias
hidroclimáticas aplicadas nos mais de 82 resorts de saúde, para tratamentos
pós-traumáticos, de problemas cardiovasculares e neurológicos. Neste país, o
principal distrito termomineral está em “Vitoria” (Bennett et al., 2004; Shugg,
2004).
Outros
exemplos podem ser citados como: a estruturação de estratégia para o
desenvolvimento sustentável das fontes termais de “Sagole” na África do Sul
(Tshibalo, 2011); a influência do gerenciamento espacial em áreas com águas
terapêuticas utilizadas para SPAs, na qualidade de vida de suas comunidades da
Polônia (Krol e Kot, 2010); a geração de proveitos econômicos pelo turismo
termal aos sistemas produtivos em regiões de Portugal (Lapa et al., 2002); na
percepção duradoura da qualidade de vida aos visitantes e moradores do
tradicional centro termal de “Bath” na Inglaterra (Atkinson e Davison, 2002).
O grande
interesse à indústria do turismo pode ser justificado pela participação em 9%
do produto interno bruto (PIB) global, com o volume de US$ 6,3 trilhões e a geração
de 255 milhões de empregos (1 em cada 12 trabalhadores do mundo). Para o
Brasil, é projetado um crescimento de 7,8% em seu faturamento anual de US$ 127
bilhões ao ano, correspondendo a 3,6% do PIB (OECD, 2013). Quanto aos turistas
domésticos que viajam por motivos de saúde ou para visitar estâncias climáticas
e hidrominerais brasileiras, estima-se a contribuição em 10% dentre todos os
segmentos turísticos (BRASIL, 2007).
2.4. Aspectos Sociais
Dentre os 560
municípios brasileiros com os melhores (superiores a 0,8 no ano 2000) índices
de desenvolvimento humano (IDH), a estâncias hidrominerais somam em 35 (Rego et
al., 2008). Nos estados de São Paulo e Minas Gerais todas estão em destaque
(Andrade, 2012). Águas de São Pedro/SP possui o segundo índice nacional, Poços
de Caldas/MG o mais elevado em seu estado, com São Lourenço/MG na terceira
posição. Em Santa Catarina, dentre os 20 municípios com melhores IDH, são 6 as
estâncias hidrominerais e dentre estes, nos estados do Rio Grande do Sul e
Goiás, encontram-se 3 representantes.
As
diferenciadas e íntimas relações entre as comunidades das estâncias
hidrominerais com suas fontes e recursos naturais são evidenciadas no Brasil
historicamente. Tais vínculos costumam estar no apego à identidade de origem,
influencia na renda ou atividade profissional, desenvolvimento social melhor
distribuído, senso de preservação e a participação efetiva na governança ou
planejamento político estratégico.
Algumas das
peculiaridades destes ambientes saudáveis (Taboada, 1870; Nunes et al., 1999;
Freitas et al., 2003; Mota, 2003; Franca e Ribeiro, 2010; Gomes, 2011;
Marrichi, 2012), estão nos valores:
a) Referentes
aos sítios culturais, de significação histórica, cujas características
estéticas naturais formam um cenário valioso para a sociedade;
b) Intrínsecos
aos ecossistemas, que regulam os processos e os estoques de recursos da
natureza, tais como água mineral, as suas propriedades medicinais e o ciclo
hidrológico;
c) Direcionados
para a conservação e a preservação na diversidade da natureza.
Diante de uma
tendência global à deficiência nutricional em minerais e principalmente aos
elementos traços, mesmo nos países mais ricos (Campbell, 2001), vale salientar
a potencial importância das águas subterrâneas (mais mineralizadas) como sua
fonte essencial para a dieta brasileira, especialmente para crianças de
comunidades carentes (Cozzolino, 2007; Bueno et al., 2013).
As doenças
crônicas não transmissíveis (DCNT) afetam menos de 30% da população brasileira,
contudo, afligem acima de 70% o grupo etário dos idosos e são responsáveis pela
mesma parcela do total da mortalidade (PNAD, 2008). Uma vez que para estas
principais patologias existem ensaios clínicos crenoterápicos de eficácia na
cura, diminuição dos sintomas ou melhora na qualidade de vida, se espera
contribuir nesta governança pelo bem estar social, efetividade econômica e
racionalidade ambiental (ANEXOS QUADROS: 1.
PRINCIPAIS DOENÇAS CRÔNICAS NO BRASIL, 2. ESPECIALIDADES MÉDICAS e 3. EFICÁCIAS
DIVERSAS NA ITÁLIA).
Além das
doenças tradicionalmente tratadas, o sindicato dos médicos crenologistas da
França planeja diversificação diante de potenciais aplicações em: fibromialgia,
Alzheimer, Parkinson, acidente vascular cerebral, esclerose múltipla,
reabilitação pós-traumática, sequela desabilitadora, desordem mental, perda de
memória e de massa muscular; bem como de programas preventivos e de
reabilitação em obesidade, diabetes, tabagismo, alcoolismo, drogas e
envelhecimento (Freire, 2013).
Um tratamento
climatoterápico de uma semana possui o custo estimado em US$ 500,00; já para um
tratamento de SPA completo, de quatro semanas e com acompanhamento médico, os
valores oscilam entre US$ 2.000,00 a US$ 27.000,00 (WHO, 2005).
Recente
pesquisa estatística revelou que a doença crônica de maior incidência no Brasil
é a hipertensão arterial sistêmica, seguida pelas dores lombares. Os
tratamentos das mesmas, nos Estados Unidos custam anualmente até US$ 90,6
bilhões, contribuindo com 14,5% de seus gastos totais em saúde (Magalhães et
al., 2012).
2.5. Aspectos Ambientais
As
características especiais e incomuns das nascentes, muitas vezes produzem
microambientes com morfologia, físico-química e ecossistemas diferenciados.
Estudar suas propriedades tem auxiliado no conhecimento hidrológico,
hidrogeológico, geológico, biológico e antropológico dos meios ambientes
relacionados (Manga, 2001).
Os
ecossistemas podem depender das águas subterrâneas direta ou indiretamente,
pois além das conexões com águas superficiais, os aquíferos fornecem à biota
águas diferenciadas e protegidas da exposição superficial, nutrientes e
minerais, além de uma temperatura relativamente estável (Krauskopf e Loague,
2003).
Apesar de
todas importantes funções relacionadas às nascentes, na maior parte do mundo se
observa desconhecimento, desprezo e a deterioração destes tipos de mananciais,
principalmente nas ocorrências de menores dimensões e em áreas urbanas (Sada e
Keir, 2006). E justamente as mais evidentes exceções estão em alguns países da
Europa e no Japão, onde esta atenção e senso de preservação se verificam nos
tradicionais usos destes mananciais para banhos, terapias, bem estar e turismo.
Na França, muitas destas fontes são relevadas a patrimônios naturais e
culturais (Feru, 2004).
Os cuidados e
estratégias políticas relacionadas às nascentes devem fundamentalmente
reconhecer sua posição de delicada interface entre tres distintos ecossistemas
(águas subterrâneas, mananciais superficiais, impactos das atividades humanas)
e assim relevar toda a gama de seus valores ambientais e sociais (Barquin e
Scarsbrook, 2008). Alguns autores consideram a atual gestão política
hidromineral brasileira excessivamente produtivista e enfocada nas indústrias
de águas engarrafadas, tornando-se um obstáculo à transformação e proteção
ambiental das estâncias no país (Ninisi e Drummond, 2008).
Possuindo
acima de 12% da água doce superficial global e volume armazenado estimado em
112.000 Km3 nos aquíferos a menos de 1.000 metros de profundidade,
na sua maioria ainda preservada e com boa qualidade para o consumo humano
(WWAP, 2009); o Brasil merece que tais recursos sejam mais bem conhecidos e
valorizados.
Fonte:
Tese de Doutorado
Tese de Doutorado
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