RIQUEZA BRASILEIRA: Estâncias Hidrominerais do Brasil

RIQUEZA BRASILEIRA
ESTÂNCIAS HIDROMINERAIS DO BRASIL

Artigo publicado:
Revista Mercado de Águas ESTÂNCIAS NIDROMINERAIS DO BRASIL



Por Geól. Fábio Lazzerini
Consultor em Administração e Política de Recursos Naturais Minerais, Geodiversidade e Termalismo (Spa Unique Garden, Prefeitura Municipal de Águas de Lindóia-SP, Termas de Jurema-PR, Thermas de Mossoró-RN e Termas Aguativa-PR) e Diretor da Sociedade Brasileira de Termalismo.




O Brasil possui alguns Circuitos das Águas ou de Estâncias Hidrominerais de prestígio internacional, como em Minas Gerais o mais famoso das águas carbogasosas de Caxambu, São Lourenço, Cambuquira e Lambari; assim como o das Águas Termais Radioativas Sulfurosas de Araxá e Poços de Caldas, Caldas, Pocinhos do Rio Verde e Patrocínio. Na Bahia, um dos primeiros hospitais termais das Américas surgiu no Vale do Rio Itapicuru, em Cipó. Este esquecido Circuito baiano, junto com Jorro e Itapicuru, está localizado caprichosamente em clima de caatinga e distante pouco mais de 200 quilômetros dos luxuosos resorts da Costa do Sauípe. Trata-se de nascentes e poços de águas termais (quentes) de raras águas alcalino-terrosas. Por todo o Nordeste citam-se muitos outros locais com ocorrências de águas mineromedicinais: Brejo das Freiras/PB, Mossoró e Apodi/RN, Caldas de Barbalho/CE, Caldas do Bamburral, Olinda e Salgadinho/PE, Gamboa/MA, e no Pará, as águas quentes de Monte Alegre e salgadas de Salinópolis. No Rio de Janeiro são historicamente conhecidas, por seu paladar, as águas carbogasosas de Raposos – Itaperuna, as iodetadas de Pádua, e diversas outras ocorrências de águas oligominerais nas estâncias montanhosas cariocas: Teresópolis, Petrópolis, Nova Friburgo. No Mato Grosso são espantosas as vazões nascentes das cachoeiras de águas quentes nos mananciais do rio São Lourenço, o mesmo ocorrendo com as badaladas termas goianas do rio Quente e Caldas Novas, completando este Circuito goiano com as águas quentes e salgadas de Cachoeira Dourada e Jataí. Em Santa Catarina, o Circuito das Caldas da Imperatriz, Tubarão, Gravatal, Águas Mornas, Guarda, Urussunga, possui das melhores infra-estruturas do país e águas com teores mundialmente reconhecidos de gás Radônio em meio às suas nascentes de águas quentes e oligominerais, que deram origem, no passado, até a conflitos armados com os indígenas, que as consideravam sagradas. Existem atualmente 63 estâncias no Estado de São Paulo, sendo 13 hidrominerais, e destas, 10 pertencentes ao mesmo Circuito: Águas de Lindóia, Águas da Prata, Amparo, Atibaia, Campos do Jordão, Lindóia, Monte Alegre do Sul, Poá, Serra Negra e Socorro. Este, conhecido como Circuito das Águas paulista ou Pré-cambriano paulista, possui águas oligominerais frias (21 oC o ano inteiro) e com as maiores radioatividades nas fontes do país, que também ficaram conhecidas por seu paladar levíssimo, por meio de famosas marcas engarrafadas. Vale destacar, aqui, duas das maiores Províncias Hidrominerais do planeta, para o aproveitamento em atividades de Termalismo, Turismo saúde e Turismo hídrico: os aqüíferos da Bacia Sedimentar do rio Paraná e os da Bacia Sedimentar Amazônica. Na bacia do Paraná, onde o famoso Aqüífero Guarani é considerado como o maior reservatório de água doce potável do mundo, existem também diversas estâncias hidrominerais, com águas minerais de especialíssima complexidade e alcalinidade, com propriedades terapêuticas já reconhecidas e com aproveitamento em atividades balneológicas e hidroterápicas. Existe um gigantesco potencial para viabilização de outras estâncias hidrominerais nesta desenvolvida região do MERCOSUL. Dentre os exemplos de São Paulo destacam-se: Águas de São Pedro e Ibirá, por suas características mundialmente destacadas de enxofre (sulfurosa) e pH alcalino, respectivamente. Outros municípios paulistas: Piratininga (das mais mineralizadas do país), Presidente Epitácio, Presidente Prudente, Fernandópolis, Lins, Jales, Araçatuba, Olímpia, também fazem proveitos em recreação aquática das águas muito quentes e por vezes jorrantes a vários metros de altura. Estas águas especiais são alcançadas por meio de poços profundos, muitos de perfurações prospectoras para Petróleo e que permitiram acesso a estes preciosos mananciais. História muito semelhante ocorreu em outros municípios abrangidos por esta bacia sedimentar, como no Paraná: Maringá, Cornélio Procópio, Iretama, Mallet, Palmas, Guarapuava, Bandeirantes; em Santa Catarina: Palmitos, São Carlos, Chapecó, Piratuba, e no Rio Grande do Sul: Iraí (Águas de Mel), Marcelino Ramos (onde existe o Trem das Termas), Ijuí, Vicente Dutra, Catuípe... Neste mesmo manancial subterrâneo, nossos irmãos do MERCOSUL, Uruguai: Dayman, Salto Grande, Arapey... e Argentina: Federación, Chajary, Colón e outros fazem usos mais requintados em termas, resorts e com a prática regular da Medicina Hidrológica ou Crenologia. A Amazônia possui muitos locais onde a cultura indígena e cabocla conhece águas e lamas com propriedades curativas, possuindo a maior riqueza mundial de áreas consideradas “intocadas” pela civilização. Destaca-se nesta região a diversidade, nítida até vista do espaço, entre as águas superficiais do rio Negro e as barrentas do rio Solimões. A gigantesca hidrodiversidade da Bacia Sedimentar Amazônica estende-se a seus aqüíferos subterrâneos profundos, onde novamente atividades petrolíferas identificaram a ocorrência de águas hipersalinas, ou seja, mais salgadas que as marinhas, porém de composição mais diversificada em sais minerais e semelhante à reconhecida mundialmente água do Mar Morto, de Israel, que possui reconhecidas propriedades terapêuticas (junto com suas lamas). Finalmente, com o maior litoral tropical do mundo, possuímos também um dos maiores conhecedores de Talassoterapia, que envolve todos os RNTs (Recursos Naturais Terapêuticos) marinhos e/ou litorâneos, o Dr. Benedictus Mário Mourão. Além da rica variedade de mangues ainda preservados, praias de geografias únicas, em climas tropicais, equatoriais até temperados, nosso litoral permite a exclusividade (apenas junto com a Índia) de desfrutar das areias monazíticas em várias localidades, como: Guarapari/ES, Peruíbe/SP, Região dos Lagos/RJ, Ilhéus-Olivença-Cumuruxatiba/BA e outros pontos até o litoral do Amapá. Apesar disto tudo, não possuímos nestes locais sequer um centro de estudos ou turísticos especializados em Talassoterapia! Em resumo, temos um dos maiores patrimônios naturais da geodiversidade mundial, sendo estratégico o fomento em atividades relacionadas a estas riquezas naturais, devendo fazer parte de um enfoque multidisciplinar e de planejamentos governamentais, assim como a biodiversidade, pois apenas aumentando os conhecimentos sobre nossas ocorrências naturais e sobre seus eventuais usos, iremos potencializar sua preservação e seu aproveitamento em atividades econômicas altamente sustentáveis, correlacionadas ao Termalismo, Turismo saúde e outros setores do Turismo de natureza; Medicina Hidrológica, Medicina Complementar (de acordo com Organização Mundial das Saúde), Medicina Preventiva, Medicina Ortomolecular, Farmacologia, Cosmética, SPAs, Estética e outros correlacionados à saúde, bem-estar (“wellness”) e beleza; além, obviamente, da indústria de águas minerais engarrafadas. Mesmo porque, na Europa, diversos SPAs (“salus per aqua”), indústrias cosméticas e de águas engarrafadas de fama internacional e intensamente exportadas nasceram de suas estâncias hidrominerais ou termais, aproveitando de suas fontes de águas mineromedicinais, lamas, fangos, sais, climatismo e outras matérias-primas naturais terapêuticas. Por exemplo, somente em previdência na Itália calcula-se economizar anualmente um bilhão de euros; nas termas são diariamente demonstradas eficácias terapêuticas, como: reumáticas, gastrintestinais, dermatológicas, otorrinolaringológicas, vias respiratórias, vasculares e do sistema urinário, nos mais de um milhão e meio de pacientes atendidos em 2003. Nos últimos sete anos, o impulso dado ao Termalismo neste país europeu girou um volume financeiro superior a 3,5 bilhões de euros, e o consumo de produtos farmacêuticos alopáticos diminuiu em quase 50%. Muito da infra-estrutura balneária de nossas estâncias hidrominerais e climáticas estão sob a responsabilidade do Estado; algumas prefeituras até recebem subsídios por tal status adquirido. Apesar do histórico descaso com as estâncias hidrominerais do Brasil, não só político, mas econômico e acadêmico, os últimos governos federais começam atentar-se para este tema. Com FHC, pelo decreto federal de 08/07/2002, que prevê a criação de grupo executivo para integração entre a pesquisa e todo o setor produtivo relacionado às águas minerais, balneários e recursos hídricos, além de uma nova Comissão Permanente de Crenologia para rever o código das águas minerais de 1945, que ainda regula estes recursos. E com LULA tivemos o grande avanço da Portaria do Ministério da Saúde 971, de 03/05/2006, que, seguindo recomendações da Organização Mundial da Saúde, considera, entre outras, que “o Termalismo Social/Crenoterapia constitui uma abordagem reconhecida de indicação e uso de águas minerais de maneira complementar aos demais tratamentos de saúde, e que nosso País dispõe de recursos naturais e humanos ideais ao seu desenvolvimento no Sistema Único de Saúde (SUS)”. Desta maneira, espera-se uma grande expansão em médio prazo deste setor, que pode abranger o máximo da sustentabilidade sócio-ambiental, carecendo, aqui, apenas de mais profissionais interessados nas diversas áreas de conhecimento, em especial Geologia e Medicina.

 Fonte: REVISTA MERCADO DE ÁGUAS, edição de maio, junho e julho de 2007. - http://www.guiamercadodeaguas.com.br/revista_28.htm





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